terça-feira, 6 de novembro de 2007

[Piada do Dia]Direito ao Foda-se

texto de Millor Fernandes

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional é quantidade de "foda-se!" que ela fala.
Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?
O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor.
Reorganiza as coisas. Me liberta.

"Não quer sair comigo? Não? Então foda-se!".
"Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituiçao Federal. Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.

É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Portugues Vulgar que vingará plenamente um dia.
"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "pra caralho"?
"Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática.
A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho,
o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No genero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais
absoluta negaçao, está o famoso "Nem fodendo!"
O "Não, não e não!" é tampouco nada eficaz e já sem nenhuma
credibilidade "Não, absolutamente não!" o substituem.
O "Nem fodendo!" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera,
com a consciencia tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida.

Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra
ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Danielzinho, presta atençao, filho querido, NEM FODENDO!".
O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com
a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional.

Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um
"é PHD porra nenhuma!" ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!".
O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de
incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.
São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e mais recentemente o "prepone" - presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um
"Puta que pariu!", ou seu correlato "Pu-ta-que-o-pa-riu!!!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba.

Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!"
dito assim te coloca outra vez em seu eixo.
Seus neurônios tem o devido tempo e clima para se reorganizar e
sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa
e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!".

Voce já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus
quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu
interlocutor e solta:
"Chega! Vai tomar no olho do seu cu!".


Pronto, voce retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima.
Desabotoe a camisa e saia na rua, vento batendo na face, olhar firme,
cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de
maior poder de definição do Portugues Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!".
Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma
situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?
Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em
todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar:
O que você fala? "Fodeu de vez!".

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